Sunday, March 05, 2006

Um pouco de história


Tradicionalmente, os arquitectos, artistas e modelos usam os portefólios para apresentarem amostras do seu trabalho ou para demonstrar as suas capacidades a potenciais empregadores. Para estes profissionais, os portefólios constituem um registo e uma demonstração dos objectivos alcançados e dos atributos profissionais desenvolvidos ao longo do tempo e em colaboração com outros (Winsor, 1998).
Ao ser importado para o campo educativo o conceito de portefólio sofreu profundas alterações.
A aplicação deste conceito nos contextos de ensino, mais concretamente na avaliação do desempenho dos professores teve o seu início no Canadá, na década de 70, onde era designado por “teaching dossier”. Contudo, a origem do “portfolio movement” viria a localizar-se nos Estados Unidos, no início da década de 90, sendo de destacar, para tal, os trabalhos pioneiros desenvolvidos por Lee Shulman e os seus colegas no Teacher Assessment Project (TAP), do Institute for Research on Teaching, Michigan State University. Deste trabalho resultou um dos primeiros texto publicados sobre o tema, “The scholteacher’s portfolio: an essay on possibilities”, de Tom Bird, que se tornou, em 1990,num capítulo do livro “The new handbook of teacher evaluation: assessing elementary and secundary school teachers” editado por Millman & Darling-Hammond (Shulman, 1998). Com a curiosidade de ser uma apresentação teórica do portefólio num momento que, na prática, ainda muito pouco estava feito.
Desde esse momemto, sobretudo nos países anglo-saxónicos e com natural relevância para os Estados Unidos, onde foram considerados pela Association for Supervision and Curriculum como uma das três metodologias de topo, actualmente em uso no país os portefólios têm vindo a ganharam um lugar de destaque em âmbitos tão diversificados como, por exemplo:
· a avaliação da aprendizagem dos alunos (neste momento, existem estados nos Estados Unidos em que o portefólio constitui um instrumento de avaliação da totalidade dos alunos);
· a avaliação de professores em formação e certificação de professores já formados ( a americana National Board for Professional Teaching Standards, criada para melhorar a qualidade da certificação de professores a nível nacional, faz depender essa certificação da apresentação de um portefólio);
· a avaliação dos professores universitários (segundo Rodriguez-Farrar, em 1998 eram mais de 400 as instituições que nos Estados Unidos usavam os portefólios para a avaliação do desempenho dos seus docentes);
· como forma especial de Curriculum vitae, demonstrativo de determinadas competências e capacidades para determinado emprego ou função (Nunes, 2000) (nos Estados Unidos os professores são responsáveis pela procura da sua própria colocação, passando muitas vezes por entrevistas nas escolas onde pretendem ser colocados).
Em Portugal, estamos ainda a dar os primeiros passos no que a esta estratégia de investigação-acção-formação se refere. Como nos diz Sá-Chaves (2000), “têm vindo a ser desenvolvidos esforços no sentido de uma melhor compreensão das implicações positivas que possam decorrer da sua utilização como estratégia de formação, de investigação, de avaliação e ainda como estratégia de investigação ao serviço da qualidade da formação”.

O que é o portefólio do professor?





Em resposta à Filipa Xavier, podemos dizer que o portefólio do professor é uma colecção razoavelmente pequena e criteriosamente organizada de materiais e recursos produzidos pelo professor ou em colaboração com outros, que sejam representativos:
do seu trabalho;
do seu estatuto profissional;
da sua competência pedagógica;
do seu conhecimento dos conteúdos que lecciona; de outros atributos pessoais e profissionais que contribuem para o tornar um professor único;
Com espaço para a reflexão e auto-avaliação;
Organizado numa pasta ou dossiê ou em suporte digital.

O que é que transforma um conjunto de artefactos num portefólio?
Reflexividade (para conhecer, actuar, mudar, melhorar);
Implicação pessoal (o portefólio leva uma pessoa dentro);
Continuidade (construído e reconstruído ao longo do tempo, “longa carta” que o professor envia a si próprio);
Partilha (colegas, alunos, outros).

O que é o portefólio do aluno?



De acordo com Valadares e Graça (1998), o portefólio do aluno pode ser entendido como uma colecção organizada e devidamente planeada de trabalhos produzidos pelo aluno ao longo de um período de tempo, de forma a poder proporcionar uma visão tão alargada quanto possível do seu desenvolvimento (cognitivo, metacognitivo e afectivo). Para a National Education Association, EUA (1993), corresponde a um registo da aprendizagem baseado no trabalho do aluno e na sua reflexão sobre esse trabalho.
Daqui sobressaem as características mais marcantes desta metodologia:

· Uma colecção de trabalhos; Quer a selecção de trabalhos seja da responsabilidade do aluno, quer seja determinada pelo professor ou quer resulte de decisões negociadas entre ambos, a colecção de trabalhos resultante deve revestir-se sempre de um carácter representativo, opondo-se claramente a recolhas sistemáticas e exaustivas do trabalho desenvolvido pelo aluno;

· Criada com um propósito; Promover o desenvolvimento de competências gerais, competências específicas, constituir um elemento de avaliação dos progressos do aluno numa ou em várias disciplinas, etc.

· Com espaço para a reflexão e auto-avaliação do aluno; A “pedra de toque” do portefólio. O que o transforma num “potente” instrumento de aprendizagem e desenvolvimento.

Retomando a ideia de que o portefólio é uma pasta com gente dentro, o portefólio do aluno pode ser entendido como um roteiro dos percursos pessoais de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem do aluno, da pessoa a que pertence. É um diário educativo ou autobiografia do aprendente em que o mesmo de deve encontrar profundamente implicado (Nunes, 2000).

O formato conta?!




Em resposta (algo tardia, é certo!) à Maria Luísa Lencastre, que gosta pouco do tradicional formato de dossiê do portefólio, falemos um pouco sobre essa questão: a do formato/suporte em que o portefólio é apresentado.
É claro para todos que o mais importante num portefólio é o seu conteúdo, o que diz sobre a pessoa que está lá dentro! Agora, não é menos verdade que “os olhos também comem” e o modo como nos apresentamos perante os outros, sobretudo em contextos de avaliação, não só é importante como pode fazer toda a diferença. E se o fizermos com um toque pessoal de originalidade e inovação, tanto melhor.
Portanto, penso que a melhor solução para a questão é simplesmente dar total liberdade ao aluno para apresentar o portefólio no formato que preferir. Só assim podem surgir apresentações que nos surpreendam.
Sempre que damos alguma orientação quanto à forma do portefólio ou apresentamos exemplos, a esmagadora maioria dos alunos irá cair na tentação de apresentar algo semelhante ao que mostrámos.

Todas as possibilidades são válidas. Para além dos dossiês, podem surgir os diários ou jornais, os posters e cartazes, as apresentações em PowerPoint ou “Flash”, as páginas web (Webfólios!), os filmes, os documentários ou as encenações teatrais, até as caixas de sapatos (no caso dos miúdos!). O limite é mesmo a imaginação!